Alguém pode se enganar quando há pouco luz

Alguém tem boa memória para se lembrar do que está por vir?


O Brasil parou na manhã da última segunda-feira, quando no jogo entre Brasil e México, pela Copa do Mundo, na Rússia. As ruas ficaram desertas e vários comércios desceram as portas, numa espécie de feriado determinado pela paixão brasileira por futebol.

Alguns empresários reclamaram, afinal, um início de semana estrangulado pela insensatez de milhões de cidadão tupiniquins, que não conseguem enxergar o que de obscuro está por vir.

Pude ver jovens, todos sorrindo, apertando a buzina de seus carros, vestindo a camisa número 10 do Neymar Jr, afoitos para chegar ao seu destino: à frente de uma tela de televisão. Isso me faz lembrar o livro de George Orwell, mais especificamente 1984 – A Era do Grande Irmão – que narra a a história de Winston Smith, um editor que trabalha no Ministério da Verdade, encarregado em alterar informações por ordens do governo.

A impressão que se tinha nos minutos que antecederam ao jogo entre Brasil e México, era de que todos, indistintamente, tinham sido contaminados por uma ordem superior, de aniquilar o bom senso, por um fanatismo rasteiro, que nos empurra abismo abaixo.

Gritar por gol é uma espécie de “enforcamento” daquilo que não conseguimos enxergar, e que está a um palmo do nariz, oculto por uma alegria forjada – momentânea – que se dilui em segundos, quando o jogo termina. É o exato momento em que devemos resgatar a nós mesmos.

Impossível que brasileiro – sem lhe tirar o direito de torcer e de ser feliz – não consiga ver no Brasil uma série de fatos ocorrendo sorrateiramente, como a energia que subiu 15% por cento no Estado de São Paulo. Isso é apenas a ponta do iceberg.

São tantas as evidências, mas pensar na Seleção – comprar uma televisão nova para assistir aos jogos – é tudo o que o cidadão brasileiro precisa nesse momento de Copa do Mundo. Na próxima sexta, o caos se repetirá, no jogo entre Brasil e Bélgica. Outro mergulho profundo no vazio.

Longe de mim tentar tirar o doce da boca da criança, ela pode fazer birra, se atirar no chão aos prantos, comovendo até o mais cético dos homens. Não há o que fazer. É como acender uma lamparina na escuridão, a visão continuará turva.

Só não me esqueço de um detalhe alarmante: quando na greve dos caminhoneiros no Brasil, momento em que milhares de brasileiros rodavam as ruas da cidade em busca de combustíveis. Quando os alimentos começaram a faltar nas prateleiras, o inusitado:

Um grupo de rapazes, mascando chicletes, com fones nos ouvidos, seguindo para um avião fretado, luxuoso, sem se importar com os que ficaram para trás, indignados com a situação do país. Os rapazes nas quais me refiro, são os craques da nossa Seleção. Alguém se recorda disso? 

O que atemoriza é saber que após a Bonanza, virá a tempestade. Depois da trégua, manobras políticas podem comprometer um futuro incerto. As eleições que todo brasileiro teme estão chegando, afinal, em quem votar? E a situação do eleitor é essa: "Se ficar o bicho pega, se correr..."  

Walther Alvarenga


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