Nas Filipinas as mulheres aprendem trabalhar como domésticas |
Se apontamos falha, todos os
ângulos da informação devem ser mostrados.
A matéria que foi ao ar neste domingo no “Fantástico”,
na Globo, denunciou o trabalho escravo de mulheres das Filipinas, trazidas para
o Brasil para serem exploradas como faxineiras, com horas exaustivas de tarefas
em casas domésticas. O trafico internacional de mulheres, conforme intitulou a
reportagem, exibiu a fala de algumas Filipinas – contratadas por agências
fraudulentas -, e foi sem dúvida, alarmante.
Mas fica em questão o seguinte: e as
mulheres brasileiras exploradas nos EUA? Elas merecem a mesma atenção da nossa
Justiça.
Para quem não tem conhecimento do fato, há
hoje nos EUA brasileiras que são exploradas em ambientes de trabalho – nas funções de babysitter e housekeepe -, e que o Ministério das Relações Exteriores deveria denunciar. Tudo bem
que a questão das mulheres Filipinas é degradante, mas as brasileiras estão no
olho do furacão.
Para que o leitor tenha um parâmetro do que
está sendo colocado, nos EUA, uma senhora mineira que trabalhou para família americana
como faxineira e cozinheira, só podia sair de casa no domingo pela manhã, quando
ia à igreja.
Brasileiras faxineiras também são exploradas nos EUA |
Esta mesma senhora não tinha permissão para
ir a outros lugares porque a família a ameaçava dizendo que a Imigração poderia
prendê-la. Um terrorismo psicológico devastador.
Outra brasileira, que cuidava de cincos
crianças, vez em quando visitava amigas em Newark – cidade que fica no estado
de New Jersey -, apenas aos sábado à noite porque no domingo teria de trabalhar
redobrado, não bastasse à semana exaustiva cuidando da garotada.
E tem o fator repugnante da faxineira da
cidade de Poços de Caldas (MG), que trabalhava para família americana, mas ela
não poderia mexer na geladeira. Não deveria tocar nos alimentos da casa. A
geladeira – pasme leitor - ficava trancada com cadeado. Esta moça tinha de
levar marmita para o trabalho ou ficava sem comer o dia todo.
Pergunto: isso não é trabalho escravo? Não
seria uma forma de submeter mulheres simples a condições degradantes pelo fato
de elas não ter documentos? Não vi no Brasil – me aponte se estiver errado –
uma reportagem, em rede nacional, falando de brasileiras faxineiras exploradas
por famílias americanas.
Têm tantos casos de trabalho escravo
envolvendo brasileiras, mas o Brasil os ignora. Fica em silencio. Por que tamanha
especulação no caso de mulheres Filipinas? Óbvio que elas merecem cuidados
judiciais, evidente, entretanto, a condição é a mesma de trabalhadoras do
Brasil no exterior.
São mulheres que enviam dinheiro para o
Brasil para manter a casa, a família e o estudo dos filhos. Mulheres guerreiras
que mereciam ser ouvidas de fato para que o nosso país tomasse conhecimento de
uma realidade que poucos – ou quase ninguém –, conhecem.
Louvável a matéria investigativa do “Fantástico”,
mas – a meu ver – essa pauta deveria ter um desdobramento, revelando ao país o
quanto brasileiras são humilhas e exploradas por famílias americanas no
trabalho.
Walther Alvarenga
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