O jornalista Antônio Pampliega viveu dias de medo e incerteza
  Antônio Pampliega ajoelhou-se com faca no pescoço. Pensou ser o fim.

Sequestrado no dia 12 de julho de 2015 por um grupo da filial síria da al-Qaeda, a 'Frente al-Nusra',  o  jornalista freelancer Antônio Pampliega – espanhol - revela como foram os 300 dias de tortura em que viveu sob o domínio do medo, na Síria, refém de extremistas perigosos, que o ameaçavam o tempo todo.

Antônio relata que sempre conseguiu ir à Síria, sem ter problemas de circulação. Foi um dos primeiros jornalistas a entrar no território desde o inicio do conflito no ano de 2011. Esta era a 12ª viagem àquela zona de guerra.

Antônio Pampliega relata que foi traído pelo guia que contratou na Síria
Entenda o que aconteceu: Viajando desta vez com dois colegas de profissão - Ángel Sastre e José Manuel López -, lembra Antônio Pampliega que ao chegar à Síria, contrataram um “fixer” (guia tradutor), de nome Usama, recomendado por outra colega jornalista.

A certa altura da viagem, Usama pediu para tirar uma foto com os três jornalistas espanhóis e prometeu que nunca a tornaria pública visto que a partilha da imagem poderia ser o passaporte para um sequestro.

Antônio e os jornalistas, Ángel e López, quando chegaram à Síria.
A viagem prosseguiu, sem problemas. De repente, Usama colocou a cabeça para fora do veículo, levantando o braço, numa espécie de senha. Antônio relata que seis homens, fortemente armados, cercaram o carro que os conduzia ao seu destino.

 “Os seis homens estavam vestidos de militar e tinham o rosto coberto, como é comum nos jihadistas”, diz Antônio. “Naquele momento soube que Usama tinha nos traído”.

Á frente Usama, o guia que traiu os jornalistas.
Os jornalistas espanhóis foram sequestrados e levados pelo grupo terrorista 'Frente al-Nusra'. Este foi o primeiro dos 300 dias de sequestro. O pânico e o terror estavam instalados nos três jornalistas, que saíram de Espanha para reportagens. 

Ameaça de decapitação - Os sequestradores obrigaram Pampliega a ajoelhar-se. Um dos homens tinha na mão uma faca de serra e a encostou ao pescoço do jornalista. Levantaram-lhe a cabeça e obrigaram-no a olhar para uma câmera de vídeo.

Os sequestradores radicais do grupo "Frente al-Nusra"  
Antônio relata que sentiu calafrios. Lembrou-se da família, dos amigos. Quando parecia que tudo ia acabar, os terroristas começaram a rir. Disseram-lhe que era o que lhe aconteceria caso tentasse escapar.

Na Espanha os rumores eram de que os três jornalistas poderiam ter sido assassinados, mas iniciou-se um trabalho investigativo sob o paradeiro dos rapazes.

O reencontro de Antônio com a família, após o sequestro.
"No dia 95 do sequestro, os terroristas me levaram para outro local, me separando dos meus companheiros”, enfatiza Antônio.

O jornalista diz que os sequestradores eram fãs do Real Madrid, e que lhe perguntava muitas vezes sobre a equipe e os jogadores. Ele relatou que no cativeiro conheceu um jornalista japonês, que também fora raptado.

Foram gravados dois vídeos de propaganda da 'Frente Al-Nursia' onde apareciam os jornalistas. Na Espanha as buscas se intensificaram.

Antônio relata que os seguintes 204 dias foram de angústia. "Aí começou o verdadeiro sequestro, com maus tratos e humilhações", conta. "Todos os dias eram iguais. Nunca sabia o que me iam fazer", relata.

"Escrevia, olhava para o teto, dava voltas ao quarto, que tinha 33 passos, e cantava", descreve emocionado. Medo é a palavra que Antônio mais se refere. 

Antônio Pampliega diz em entrevista que foram 300 dias de agonia
A libertação - Não se sabe se o Estado espanhol pagou um resgate para libertar os jornalistas e até ao momento ninguém do governo confirmou o caso. Segundo um jornal turco, Espanha pagou 10 milhões de euros dos 25 milhões pedidos pelos raptores.

Antônio voltou a ver os companheiros Ángel  e López no momento da libertação. Taparam-lhe  o rosto, amarram-lhe as mãos e levaram-no para junto dos colegas.

"O momento mais duro do sequestro foi à libertação", conta o jornalista. Quando lhe disseram para ligar para casa sentiu medo. Achou que, por algum motivo, a mãe pudesse ter morrido.

E após 300 dias de angústia, tortura e sofrimento, os três jornalistas abraçaram pela primeira vez as respectivas famílias. O pesadelo tinha chegado ao fim.

Walther Alvarenga

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