Drama de senhora que não pode sair de casa nos EUA

Ela não fala inglês e nunca sai sozinha. Família controla seus passos.

A conversa com a brasileira, da região de Belo Horizonte, foi surpreendente, diria revoltante, e durou cerca de 40 minutos. Fui autorizado a citar o fato, entretanto, jamais mencionar o nome das pessoas envolvidas. O motivo? Questão de segurança da própria brasileira, que vou chama-la de Angélica – nome fictício, evidente.

Aos 75 anos, Angélica é prisioneira de uma família, também brasileira, que a impede de sair sozinha ou de ir ao encontro de amigos. O único direito permitido a ela é de ir aos domingos na igreja, na missa das oito horas da manhã. No término, por volta das 10 horas, o patrão a espera na porta da igreja para leva-la de volta à sua “cela”.

Mas se a senhora quiser almoçar na casa de pessoas amigas, com o pessoal da igreja? Pergunto atônito, mas a resposta é inacreditável: “Não posso. Só tenho autorização de ir à missa, nada mais”.

“O que as pessoas não sabem no Brasil é que alguns brasileiros se tornam bandidos quando chegam aos Estados Unidos. No Brasil ficam sorrindo, contando vantagens, mais aqui eles torturam, humilham e ameaçam as pessoas que não têm documentos, como é o meu caso”, desabafa.


Consulado Brasileiro em Nova York
Mas por que a senhora não liga para o Consulado brasileiro aí em Nova York? Sugiro, mas senhora Angélica responde sem hesitar: “Eles nunca atendem ao telefone. Fica uma secretária eletrônica falando o tempo todo. O Consulado aqui te deixa na mão”. 

“Estou vivendo um pesadelo nos Estados Unidos. Como não falo inglês, fico dependente dessa família. Não sei pegar trem, não sei andar de ônibus porque nunca me deixaram sair daquela casa”.

“Acordo às seis da manhã e trabalho até às dez da noite, todos os dias”, diz Angélica. “O meu pagamento semanal fica com o meu patrão. Ele diz que está guardado no banco, mas nunca vi a cor do dinheiro. Se preciso comprar algum remédio ou alguma roupa, o meu patrão traz. Nunca fui à loja ou a farmácia”.

A voz da brasileira denota aflição, em alguns momentos ela chora e depois se recompõe, dizendo que se sente refém e que não tem o direito de visitar quem quer que seja, exceto os rápidos encontros aos domingos, na igreja.

Entenda a história – Angélica morava em Minas, em 2008, quando conheceu a família, durante uma festa de casamento. “Eu tinha sido contratada para fazer o jantar, que foi servido aos padrinhos dos noivos. Todos gostaram muito da minha comida, quando o casal me abordou e me convidou para vir morar nos Estados Unidos”, lembra Angélica.

“Eles me prometeram tanta coisa, que acabei vindo. Quando cheguei aos Estados Unidos não podia nem ir à esquina porque eles diziam que a imigração não gostava de estrangeiros e que eu poderia ser presa”, a brasileira relata o princípio da crueldade.

“Tenho o meu quarto, mas só posso descansar quando eles vão dormir. Antes eu ficava na cozinha, o dia inteiro. Depois passei a cuidar da casa e das crianças – um casal de 9 e 10 anos de idade”.

Com o passar dos anos, Angélica foi ficando entediada, queria voltar para o Brasil, mas o casal a impedia, sempre com ameaças. “Eles ficaram com o meu passaporte e dizem que jamais poderei sair dos Estados Unidos sem o passaporte”, denuncia.

Na verdade, leitor do BLOG, Angélica está sendo vítima de chantagem, de ameaças, por ser pessoa simples, por não falar o inglês, de não ter documentos. Ela tornou-se refém da maldade de um casal que a tortura com requintes de crueldade.

A conversa com a brasileira, pelo telefone, foi graças ao socorro de uma amiga da igreja que passou o número do meu celular, então ela ligou, aproveitando a ausência dos patrões, como sempre, que a deixaram trancada. Nem mesmo o nome do local, acredite, Angélica sabe dizer.

Angélica, hoje com 75 anos, e há dez anos refém da família, conta que a casa fica bem afastada da cidade, em meio a uma floresta. As crianças tornaram-se adultas e o casal a pressiona quando pede para ir ao Brasil ou visitar amigos da igreja.

“Eles têm sempre uma desculpa: falam que se eu sair sozinha a polícia pode me prender. Estou vivendo um pesadelo e não tenho a quem recorrer. Não falo inglês, não tenho documentos e o meu passaporte eles nunca me devolveram”, denuncia.

Walther Alvarenga

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