"Eu senti que poderia morrer se atravessasse a fronteira do México"
Relato é impressionante e fala do momento crucial ao desistir do sonho

Faltavam alguns minutos para iniciar o percurso mais perigoso da travessia do México para os EUA – através do deserto –, mas ela desistiu, mesmo tendo pagado por aquela que seria uma trágica caminhada – acompanhada por “coiotes”. Poderia ter custado a sua vida. Refletiu antes do passo seguinte e pensou nos filhos que deixara no Sul de Minas. Lembrou-se do olhar de tristeza dos pais no momento da despedida.  Voltou atrás!

A mineira, que vamos chamar de Isabela – nome fictício para não revelar a verdadeira identidade –, de 42 anos, mora em um sítio próximo a Poços de Caldas (MG). E com o fim de um casamento de oito anos, decidiu ir para os EUA tentar a vida.

“Eu queria estudar os meus dois filhos, comprar uma casa e depois voltar para o Brasil. Consegui dinheiro emprestado com os meus pais, e com alguns amigos, e tinha um dinheiro guardado no banco. Era o que eu precisava para pagar a travessia pelo deserto do México”, lembra à mineira.

"Entrei em desespero e gritei pelos meus filhos"

“Esperei por oito meses, estava tudo certo, mas quando cheguei ao México senti o meu coração fechado, senti que poderia morrer se atravessasse a fronteira. Já tinha pagado o pessoal que me levou – “coiotes” –, mas mesmo assim tive medo, muito medo”, relata Isabela.


“O preço que paguei? Olha, prefiro não dizer a quantia – contou apenas em off para o repórter – para não incentivar outras pessoas. É perigoso demais e tive medo de ser estuprada porque o rapaz que estava nos conduzindo bebia muito, sem respeito algum pela mulheres que ali estavam – Isabela disse que era doze pessoas em seu grupo, com três mulheres.

Pessoas morrem na travessia e corpo é abandonado
“Em sentia calafrios, mal conseguia comer alguma coisa, tamanho era o meu nervosismo. Lembro que olhei para aquele deserto e tudo o que estava por vir. Não sei se valeria a pena seguir em frente”, lembra com consternação.

“Falei para um dos rapazes que nos levava que não queria ir mais, e que voltaria para o Brasil. Ele deu gargalhadas e me chamou de burra. Tentou me convencer dizendo que faltavam alguns metros para chegar ao túnel que conduzia ao solo americano. Ele me sacudiu com violência e disse que eu não poderia voltar, teria que seguir em frente”, Isabela chora.

“O outro cara, mexicano, me pegou pelo braço e me empurrou. Gritou comigo, falava que eu estava colocando em risco todas as pessoas do grupo. Quando ele foi me agredir, um senhor brasileiro o impediu que ele desse um soco no meu rosto. Foi horrível! Entrei em desespero, gritava pelos meus filhos, pela minha mãe!”

“Foi quando o homem mais velho, entre os mexicanos, disse que eu poderia voltar. Ele me deu uma garrafa de água e um pão para comer. Eu teria que caminhar sozinha. Seria um trajeto de meia hora, mas que eu andasse depressa, sem olhar para trás. E foi o que eu fiz”, fala Isabela com certo alívio.

O olhar de melancolia da mineira, que falava abraçada aos filhos, sob o olhar de sofrimento da mãe, disse que vai trabalhar para pagar a sua dívida, e que quer esquecer o que aconteceu.

Ela falou com exclusividade ao BLOG, dizendo o seguinte: “você é um jornalista sério, vejo os seus programas e o seu empenho pelos brasileiros que estão fora do Brasil. Senti no meu coração que eu precisava contar a você o que aconteceu comigo, para alertar pessoas”, desabafa.

“Ainda quero ir aos Estados Unidos, mas quando isso acontecer quero entrar pela porta da frente, com dignidade. Ficar correndo pelo deserto, feito animal, não é correto”, sorri com tristeza no olhar.

Walther Alvarenga  


     


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