Lidia Rodrigues lembra momentos de desespero no 11 de setembro |
“Olhei para o alto e pensei que era papel
picado caindo. Eram pessoas se jogando”.
Ela sobreviveu aos ataques
terroristas no World Trade Center, em Nova York. 61colegas de trabalho morreram.
Chegou atrasada para trabalhar. Era o fatídico dia 11 de setembro de 2001.
Quando desceu na estação ao lado das torres gêmeas, ficou paralisada – ao olhar
para o céu viu as explosões. “Eu pensei que era papel picado que caía das
torres, mas depois vi que eram pessoas se atirando lá de cima. Eram pessoas se
jogando. Foi horrível”, lembra a brasileira Lidia Rodrigues.
E após 18 anos em silêncio, se
esquivando de relembrar uma das mais tenebrosas experiências vividas na
tragédia do dia 11 de setembro de 2001, em Nova York – Manhattan –,
nos ataques suicidas contra os EUA coordenados pela al-Qaeda, Lidia Rodrigues, mineira de Poços de Caldas, resolveu
falar com o BLOG.
Quando fui me
encontrar com a Lídia, era uma tarde de sol em Nova York, onde ela reside com a
família. Pouco mais das duas da tarde. Confesso, foram momentos tensos, entre
lembranças assustadoras, intercaladas por alguns segundos de silencio e depois
lágrimas.
Momento crucial dos ataques ao World Trade Center em 2001 |
E lá se foram 18
anos, mas para Lídia parece que tudo aconteceu ontem, pois as cenas trágicas
continuam vivas em sua memória. Ela fala de um amigo de trabalho, na empresa Stock
broker – corretora da Bolsa de Valores –, que ficava no andar 84 da segunda
torre atingida pelos ataques terrorista.
“Ele era uma
pessoas incrível e estava muito feliz porque a esposa tinha dado à luz, e falava
com orgulho do filho recém-nascido. Ele morreu nas explosões e não viu o filho
crescer”, conta.
Outra amiga,
lembra Lidia, que sempre chegava atrasada no trabalho e levava bronca do chefe,
naquele dia 11 de setembro não se atrasou. Chegou no horário e morreu nas
explosões.
Enquanto relata,
a brasileira, em alguns momentos pede para parar. Fica em silencio, limpa as
lágrimas no canto dos olhos e retoma o depoimento com a voz embargada.
“Os meus amigos
de trabalho – 61 amigos de trabalho –, morreram e isso machuca. Quando olhei
para a torre onde eu trabalhava e a vi em chamas, sabia que eles estavam lá e
que não tinham sobrevivido. Então perguntei para Deus o porquê de eu ter
sobrevivido e eles não”, chora.
Segundo Lidia, o
segundo avião que bateu contra a segunda torre do World Trade Center e
explodiu, entrou exatamente no andar 84, onde ficava a empresa que ela
trabalhava e, evidente, os seus amigos de trabalho.
Entenda o atraso que salvou Lidia da morte
Voltamos ao dia
11 de setembro de 2001. Cerca de sete horas de manhã e Lidia Rodrigues, que
residia na cidade de New Rochelle (NY) – ainda era solteira e não tinha filhos –
se arrumava para pegar o trem e ir para o trabalho, no andar 84 do World Trade
Center.
Toca o telefone.
Era a mãe de Lidia chamando de Poços de Caldas (MG). Ainda se arrumando e
falando com a mãe ao mesmo tempo, dizia que não poderia ficar no telefone ou iria
se atrasar.
Quando conferiu
o relógio ficou nervosa e discutiu com a mãe porque estava atrasada. Desligou e
correu para a estação para pegar o trem.
No
estacionamento da estação de trem de New Rochelle a jovem pagou o
estacionamento com moedinhas, irritando o rapaz atendente, o que lhe custou
cerca de 10 minutos de atraso.
Irritada, ao
abrir a bolsa para pegar o dinheiro, foi um desastre: “A minha bolsa caiu no
chão e os meus documentos e demais pertences se espalharam no chão. Imagine, eu
atrasada e aquilo acontece”.
E depois de
pagar o estacionamento, Lidia desceu correndo para a plataforma de embarque,
mas, para o seu desespero, quando chegou à plataforma, as portas do trem se
fecharam na sua cara. Não deu tempo de entrar. O próximo trem chegaria em 20
minutos.
Irritada,
culpava a mãe pelo atraso o que lhe custaria enfrentar o chefe mal humorado. Vinte
minutos depois – agora 30 minutos de atraso – a mineira pegou o trem seguinte e
desembarcou na Grand Central – estação central de trens e metrôs em Manhattan.
Quando seguia
para pegar o trem que parava na estação embaixo do World Trade Center – como fazia
todos os dias –, foi surpreendida pelos gritos de um velho amigo que não o via
a um bom tempo. O rapaz chamava por Lidia e dizia que precisava falar com ela.
“Eu não posso,
estou atrasadíssima, a gente se vê outra hora”, justificava Lidia, caminhando
apressada para pegar o trem, mas o amigo insistia. Dizia que era importante e
que precisava do seu telefone.
Irritada, mas
tentando ser gentil com o velho amigo, Lidia parou e ambos trocaram o número de
telefones. Ficou apavorada quando olhou o relógio e saiu correndo. Chegaria
atrasada ao trabalho, algo impensável até aquele momento.
“Foi quando eu
me lembrei de que tinha um trem expresso e que ia mais rápido. O trem só parava
uma estação depois do World Trade Center, mas era a única alternativa”, enfatiza
Lidia.
“Quando desci na
estação e andava rápido, vi as pessoas correndo e chorando. Muita gente
descendo as escadas apavoradas. Eu não sabia o que estava acontecendo. Subi as
escadas e quando sai na rua, as minhas pernas amoleceram. Olhei para o alto e
vi as torres do World Trade Center em chamas”, Lidia se emociona e pede para
parar.
“Uma fumaça
preta tomava conta das nuvens. Eu fiquei ali, paralisada, sem saber o que
estava acontecendo. Comecei a chorar quando soube que as torres tinham sido
atacadas por terroristas”.
“Às vezes as
pessoas reclamam pelos atrasos, mas pode ser um livramento de Deus. Hoje vejo a
vida de forma diferente. Eu poderia não estar aqui agora, mas foram os desígnios
de Deus. Tudo tem um propósito. O atraso pode salvar a sua vida!”, alerta Lidia Rodrigues.
Walther Alvarenga
Postar um comentário