Encontro memorável com Fernanda Montenegro
Não, não é exagero o que aconteceu quando entrevistei Fernanda.

Claro, o tempo é implacável! E quando olhamos algum ponto de nossas vidas fica evidente o quanto tudo se alterna – camufla fatos, tritura notícias –, mas existe aquele acontecimento memorável, intacto, basta foca-lo para sentir até mesmo o batimento cardíaco do instante em que tudo ocorreu. Está lá, guardado na memória.

Por que estou dizendo isso? Para lembrar-se do meu encontro com a atriz Fernanda Montenegro, em um flat em São Paulo, na entrevista que me custou, acredite, suor, taquicardia, respiração curta e um grande aprendizado.

Quando vi hoje pela manhã a foto da atriz Fernanda Montenegro estampada na capa dos principais jornais do país, fiz o caminho de volta na memória. Sei que no próximo dia 16 de outubro, ela, Fernanda, comemora 90 anos de idade e lança biografia. 

Foto com Fernanda copiada do meu livro
Não, não é exagero tudo o que me aconteceu quando entrevistei Fernanda Montenegro em São Paulo. Iniciava a carreira jornalística, e o meu editor, na ocasião, confiou em mim desafio sem precedentes. Duas horas da tarde foi marcado o meu encontro com a diva do teatro brasileiro.

Outro desafio, leitor do BLOG, é que não era entrevista coletiva:  apenas eu, Fernanda, o meu fotógrafo no saguão de um luxuoso flat em São Paulo. Li tudo sobre a Fernanda, mas ao entrar no hotel, senti calafrios. Errei, a princípio, ao me portar como admirador. O jornalista deve estar à frente, sempre, ou a entrevista vira conversa de “compadre e comadre”.

A recepcionista do hotel, após me identificar, ligou para o apartamento onde a atriz estava hospedada e aguardou. Falou coisas que não pude ouvir, e, minutos depois pediu para eu aguardar:

- A senhora Fernanda Montenegro desce em dez minutos! – disse a recepcionista apontando uma sala ao lado da recepção.

O coração acelerou, às mãos ficaram geladas. Naquela semana tinha sido nomeado Editor de Cultura e responsável pelo Caderno “Folha TV” – da Rede Metropolitana de Jornais. Tamanha era responsabilidade e muito maior o desafio.

Vi quando as portas do elevador se abriram e lá estava ela, Fernanda Montenegro. Levantei-me do sofá quase sem fôlego. Ela sorriu e veio na minha direção.

Eu tinha pressa em perguntar, mas a calma e habilidade da atriz frearam a minha ansiedade. A mulher de olhar forte e voz marcante foi serena nas respostas.

Aprendi lição valiosa: ouvir antes de questionar. O que precisamos, como jornalistas, é prestar atenção no comportamento do entrevistado, estar na mesma frequência para que haja ligação entre a busca e a descoberta.

Aos poucos, o suor se conteve, a respiração normalizou e pude então avaliar a grandeza de uma mulher que emocionou milhões de pessoas com suas personagens marcantes.

No final da entrevista, se levanta, estende a mão para o cumprimento e depois vai embora. Tudo muito prático, como a luz que se apaga no final da cena. Há os que aplaudem e os que permanecem sentados refletindo sobre tudo o que aconteceu.

Fernanda Montenegro desapareceu no saguão do hotel em meio a olhares curiosos. De volta para a redação, vou remontado cada palavra da atriz, como um quebra cabeças onde todas as partes precisam ser encaixadas corretamente.

Tantos anos se passaram e ainda me lembro daquele encontro inesquecível que rebusquei na memória e que foi registrado no meu livro “Heaven – Ídolos da Luz”, publicado pela Editora ScortecciIt was wonderful!!!

Walther Alvarenga





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