Terça-feira de tragédia no World Trade Center

‘Senti cheiro podre no ar, insuportável, misturado com o cheiro de fumaça”

A exatamente a 18 anos do dia 11 de setembro de 2001, numa manhã de terça-feira fatídica – às 8h46 –, um avião sequestrado por terroristas colidiu com uma das duas torres do World Trade Center, em Nova York. Às 9h02 outra aeronave chocou-se contra a segunda torre. Às 10h28, as imponentes Torres Gêmeas, que traduziam o poderio americano, estavam no chão. Desabaram matando 2.997 pessoas, segundo dados oficiais dos EUA – embora eu acredite que tenham morrido muito mais nas explosões.

O mundo ficou embasbacado diante da catástrofe mostrada nas televisões em todos os países. Os EUA estavam sendo devastados por uma série de ataques consecutivos, que atingiram o Pentágono em Washington, além de uma aeronave que seria jogada contra a Casa Branca, e que foi abatida na Pensilvânia.  

Brasileira acreditava que estava vendo filme

Tenho conhecimento de um relato hilário, apesar do ato de terror. Uma brasileira da cidade de Poços de Caldas (MG) conta que não falava e não entendia o inglês, pois tinha chegado aos EUA naquela semana de 11 de setembro de 2001.

Havia conseguido trabalho como faxineira no apartamento de uma chinesa, em Manhattan. Estava fazendo o serviço de faxina quando a mulher a chamou apavorada, e apontava para as imagens na televisão. Naquele momento, as torres do World Trade Center tinham sido atingidas pelos ataques terroristas.

“Lembro-me que a chinesa entrou no quarto gritando, mas eu não entendia o que ela falava. Eu estava arrumando as camas, e ela me puxou pelo braço e me levou para a sala”, conta a brasileira.

“Olhei para a televisão e vi prédios explodindo e achei que fosse um filme. Sentei-me na poltrona e fiquei olhando sem entender o que estava acontecendo. Foi quando naquele momento o meu marido me ligou desesperado pedindo para que saísse dali e voltasse imediatamente para Mount Vernon (NY), onde morávamos”.

“Disse a ele que estava assistindo a um filme na televisão com a chinesa, quando senti um calafrio. Ele me contou que Nova York estava sendo atacada por terroristas e que eu voltasse para casa. A minha vida estava em perigo”.

Cheiro de fumaça tomou conta de Manhattan
Ligação de senhora desesperada

“Eu, Walther Alvarenga, trabalhava em São Paulo como repórter da Folha e do Metrô News quando recebi uma ligação de uma senhora em prantos. Estava indo para a redação naquela manhã e ainda não sabia dos ataques contra o World Trade Center”.

“Os meus filhos nos Estados Unidos vão morrer, o prédio desabou e acho que eles estão machucados, falava aquela mãe chorando desesperada. Confesso, senti medo naquela hora e me perguntava o que estaria acontecendo, e como ela tinha conseguido o numero da minha casa?”.

“Foi quando soube da tragédia em Nova York. Perdi o fôlego ao ver as imagens pela televisão. Os telefonemas não paravam. Pais, mães, tios me ligavam em desespero pedindo para que eu buscasse notícias dos seus parentes”.

“Na ocasião, eu tinha um programa na televisão em Minas que abordava sobre os brasileiros nos Estados Unidos – o programa está no ar até os dias de hoje. Naquele momento, eu era o único elo daquela gente simples que clamada por notícias dos entes queridos”.

“Na redação, naquela terça-feira fatídica, eu e os meus colegas jornalistas trabalhamos até a madrugada da quarta-feira. Foi aquele dia de loucura total, todo mundo se trombando na redação para atualizar as informações dos ataques terroristas em Nova York”.

Sobressaltado na madrugada

“Quando eu consegui chegar em casa, tomar um banho e ir para cama dormir, fui acordado, sobressaltado, com a campainha do telefone. Atendi e ouvi um choro que nunca mais na vida vou esquecer, acredite, leitor do BLOG.

“Por favor, me ajude! Eu não tenho notícias da minha filha. Ninguém em Nova York atende. A minha vizinha tentou ligar, mas não conseguiu. Ela é tudo o que eu tenho na vida, faça isso por mim, pelo amor que o senhor tem em Deus!”

“No dia seguinte, entrei na sala do meu Editor-chefe e contei a ele o que estava acontecendo. Ela me olhava espantado. Falei sobre o meu programa e do trabalho paralelo que eu fazia na televisão com os brasileiros que moravam nos Estados Unidos”.

“O meu editor ouvia paciente, mas com cara de poucos amigos, e então me interrompeu perguntando: ‘O que você esta querendo afinal? Não entendi até agora aonde você quer chegar”.

“Respirei fundo e falei sem hesitar: “Eu preciso que você me libere por uma semana porque tenho que ir para Nova York! É urgente!”

“O meu editor, lembro-me como se fosse agora, deu um murro na mesa e o seu rosto ficou vermelho. Não posso mentir, eu encolhi na cadeira, bem de frente a ele. Esperei ouvir um NÃO do tamanho de São Paulo”.

“Ele levantou irritado me chamando de louco. Disse que Nova York tinha sido invadida por terroristas e fez aquele sermão. Ouvia cabisbaixo, calado, sem contestar. De repente, o meu Editor parou de falar e esbravejou: ‘Vai logo seu porra louca! Suma daqui! Tem de voltar em uma semana ou vou demiti-lo!”

“Leitor do BLOG, no dia seguinte embarquei para Nova York. Estava tenso, admito. O avião pousou no Aeroporto Internacional John Kennedy às seis horas da manhã.  Desembarcou apenas dois passageiros – eu e uma senhora que fora ver a filha. Ela olhou para mim e disse: “Somos dois loucos!”

“Quando passei pela ilha de Manhattan senti um cheiro podre no ar, forte, insuportável, misturado com o cheiro de fumaça. A paisagem ainda estava enfumaçada. Precisei tapar o nariz tão forte era aquele cheiro. Sentia o cheiro do terror, da tragédia do dia 11 de setembro de 2001.

Momentos de terror em Nova York
Reunidos com os Brasileiros na igreja


“Naquela semana, consegui autorização do pároco da Igreja Paróquia Nossa Senhora da Vitória, em Mount Vernon (NY), onde me reuni com os brasileiros para que tivessem a oportunidade de enviar mensagens às respectivas famílias em Minas, dizendo que estava tudo bem”.

“Nunca tinha visto tantos brasileiros, com filhos, esposas, esposos e demais entes queridos, ali reunidos. Posicionei a câmera em ponto estratégico. E, como era, muitas pessoas – imagine um batalhão de pessoas querendo mandar mensagem para as famílias no Brasil – passavam pela câmera, falava o necessário e dava oportunidade para outra família".

Formou-se uma fila imensa. Mas todos, indistintamente, puderam falar. E a frase era exatamente esta: ‘Mãe, pai, vó, não se preocupem, estamos todos bem’. A frase terminava com tchau e sorriso”.

 Quando a matéria foi ao ar, houve comoção geral entre pais, mães e demais familiares. E apesar de todos os riscos, eu estive em Nova York, enfrentei empecilhos para cumprir com o meu trabalho como jornalista. Ainda sinto calafrios só de lembrar.


E para a ironia do destino, meu aniversário é exatamente no dia 11 de setembro. Beijo, e obrigado a você pelo carinho!

Walther Alvarenga






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