Sérgio Moro fala de incompatibilidade com presidente


Sergio Moro fez considerações relevantes que o levaram a pedir demissão do cargo, alegando interferências políticas no Ministério da Justiça e na Polícia Federal

Durante pronunciamento nesta sexta-feira, o agora ex-Ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, fez considerações relevantes que o levaram a pedir demissão do cargo, alegando interferências políticas no Ministério da Justiça e na Polícia Federal. Ele disse que a lealdade ao presidente Jair Bolsonaro ficou comprometida, pois “quando assumi o ministério o presidente disse que eu tinha carta branca para nomear nomes para compor a minha equipe”.

O presidente Jair Bolsonaro exonerou o diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, que havia sido nomeado por Moro, e quer o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal.

 “O presidente me disse mais de uma vez que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele - na Polícia Federal -, que ele pudesse ligar, colher relatórios de inteligência. Realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. As investigações têm que ser preservadas. Imaginem se durante a própria Lava Jato, o ministro, um diretor-geral, presidente, a então a presidente Dilma, ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento". 

"A autonomia da Polícia Federal como um respeito à autonomia da aplicação da lei, seja a quem for isso, é um valor fundamental que temos que preservar no estado de direito,” alfineta o ex-ministro.

"O presidente também me informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal e que a troca também seria oportuna da Polícia Federal. Por esse motivo, também não é uma razão que justifique a substituição. Até é algo que gera uma grande preocupação. Enfim, eu sinto que eu tenho o dever de tentar proteger a instituição, a Polícia Federal". 

"E por todos esses motivos, eu busquei uma solução alternativa, para evitar uma crise política durante uma pandemia. Acho que o foco deveria ser o combate à pandemia. Mas entendi que eu não podia deixar de lado esse meu compromisso com o estado de direito," comentou.

O impasse entre Bolsonaro e Moro atingiu o ápice quando nesta quinta-feira, 23, Bolsonaro informou ao então ministro da Justiça que trocaria o comando da Polícia Federal – atropelando toda a hierarquia do ministério comandado por Moro. A chefia da PF estava a cargo de Maurício Valeixo, homem indicado por Moro e de sua confiança. Sua exoneração foi publicada nesta sexta, no Diário Oficial, segundo o decreto, "a pedido" do próprio Valeixo.

Segundo Moro, a troca não seria entrave, contanto que houvesse uma causa. Foram três os grande problemas sobre a troca: não foi cumprido o combinado de que o ministro teria carta branca no comando do ministério; que não houve uma causa; e que estaria havendo uma intervenção política no cargo, “o que gera perda de credibilidade”.

Moro destacou que houve, no passado, tentativa de troca política, que não durou mais de três meses porque a própria instituição rejeitou a possibilidade. Disse, ainda, que há outras divergências com o presidente da República - e que houve também convergências. Mas, neste caso, "presidente me quer realmente fora do cargo."

"Dentro do ministério, a palavra maior tem sido integração. Atuamos muito próximos das forças de segurança estaduais, até mesmo municipais. Trabalhamos duro contra a criminalidade organizada. Ouso dizer que não houve um combate tão efetivo como houve nessa gestão, trabalhando com governos estaduais. Tivemos transferências do PCC, prisão da maior autoridade do PCC, -que esteve por vinte anos foragido -, tivemos recorde apreensão de drogas no combate ao crime organizado". 

"Isso é importante. Recorde de destruição de plantação de maconha no Paraguai, buscamos fortalecer a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal com ampliação dos concursos existentes, empregamos maciçamente a Força Nacional."

Walther Alvarenga
#NãoSaiadeCasa

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