Izzy e Greice Reis escolheram as estradas para viver em liberdade nos EUA. Por onde anda a Família Reis? Nômades? Eles que percorrem as estradas a bordo de um ônibus – motor home. São personagens do livro ‘Nowhere to go but Everywhere’, escrito e fotografado pelo documentarista Dotan Saguy, da Revista ‘National Geographic’
Walther Alvarenga
Qual o destino? Um lugar aonde se possa ficar tranquilo – pelo tempo que for necessário –, sem ter compromisso com o próximo voo ou comparecer à empresa no horário estabelecido. Acordar entre as montanhas, ir para o mar mergulhar os pés nas ondas. Uma decisão nobre, privilegiada, de alguém que optou pelo desafio de ser livre – viver a cada segundo como se fosse à última vez.
Sim, o nômade não tem parada ou
residência fixa – é avesso ao estático. Está em todos os lugares, atravessando
fronteiras e se estabelecendo em áreas distantes, conquistando novos amigos. É
o rastro enigmático de uma trajetória interminável – parar, respirar, viver e
depois seguir em frente.
A família Reis cumpre uma escalada avassaladora pelas estradas dos EUA, viajando a mais de três anos a bordo de um ônibus – adaptado às necessidades do lar doce lar –, sem parada fixa, passando por vários estados e cidades do país. E quem são esses brasileiros aventureiros? Izzy Reis é o pai, artista plástico e escultor – expert em trabalhos com madeira. Consegue transformar uma Van em um motor home. E foi exatamente o que ele fez pela família: comprou um ônibus e o adaptou com todo conforto de uma casa.
A esposa, Greice Reis,
ex-estudante de Direito no Brasil – escritora, estuda astrologia e tarô – “,
incentivou o esposo a viajar pelas estradas dos EUA, abrindo mão de residir em
casa ou apartamento. Os três filhos do casal – Leo, 13 anos, Flor, 8 e Lua, 5,
também seguem os passos dos pais, e curtem essa aventura que parece não ter
fim, e que os levam a lugares inimagináveis. Sim, as crianças estudam
através homeschooling, informa Izzy – cumprem todos os procedimentos
escolares.
Conta o artista e escultor que,
em um momento de dificuldade, quando o ônibus quebrou em Los Angeles, em 2018,
“conhecemos o documentarista Dotan Saguy, da ‘National Geographic’. Ele
estava procurando pessoas como nós para o seu documentário. Ficou durante um
ano nos acompanhando em nossas viagens para escrever o seu livro documentário,
‘Nowhere to go but Everywhere’ – com fotos e texto –, lançado nos Estados
Unidos”, lembra Izzy.
“Eu tinha apenas
quatrocentos dólares no bolso quando eu e minha família decidimos seguir pelas
estradas do país. Foi um pulo de fé, de muita coragem, e não há como voltar
atrás. Hoje, no entanto, eu não conseguiria trabalhar em uma empresa, ficar
trancado em um escritório, impossível. Inclusive, recebi uma proposta de
trabalho, com um bom salário, para ocupar o cargo de gerente de uma empresa
em Delaware, mas recusei”, conta Izzy.
“Coloquei um anúncio oferecendo
os meus serviços para adaptar Vans a motor home, e tive muito clientes.
Trabalhei o ano inteiro, e tenho serviço até o final do ano. Só que os meus
clientes são de estados e cidades diferentes. São trabalhos que me permitem
viajar, me locomover para diversos estados e cidades, sem fixar residência.
Nada de trabalhos sequentes, em um mesmo local ou cidade. E deu muito certo no
meu trabalho porque, com a pandemia as famílias preferem o motor home por
questão de segurança. Estou terminando um trabalho em Utah – a família está
alojada em Utah no momento –, e depois seguimos para o Oregon.”
“É muito bom você chegar em um lugar especial e poder ficar, sem a preocupação de ter que ir embora. É um turismo sem limitações porque você não precisa se preocupar com voos ou se a sua estadia no hotel se encerrou. Você fica pelo tempo que achar conveniente. Esse o diferencial de uma liberdade muito especial, compreende? E quando a gente conquista isso (sorri), é muito gratificante, não tem preço.”
Visita a Orlando
“Quando estivemos na Flórida –
Izzy fala com entusiasmo –, “visitamos Orlando duas vezes e foi maravilhoso.
Fizemos muitos amigos em Orlando e foi muito bom visitar os parques e andar
pela cidade, que é maravilhosa. Queremos voltar a Orlando, foi muito bom passar
por lá”, relata Izzy quando perguntado sobre a passagem da família pela Flórida.
Natural de Porto Alegre,
ainda mantendo o sotaque acentuado, Izzy Reis conta que fez Faculdade de Artes
Plásticas em seu estado, também trabalhando com esculturas – obtendo
habilidades para trabalhar com madeira. Fala que resolveu vir aos EUA com a
família em 2016, em busca do sonho americano. “Viemos para Utah e depois fomos
para Delaware. E após um ano morando nos Estados Unidos, eu e minha esposa –
também de Porto Alegre –, chegamos a um consenso de que não era o que nós
queríamos, então decidimos voltar para o Brasil.”
Antes de deixar o país, o casal
decidiu ir para a Califórnia de trailer –sugestão da Greice –, para conhecer as
estradas e poder contemplar a paisagem. De lá, seguiria para o Brasil. “O
trailer que nós compramos de início era muito grande, então comprei um mini
ônibus”, fala Izzy.
E no dia 11 de junho de 2018, o
casal viajou para a Califórnia, em viagem que durou seis meses. “Foi então que
deduzimos o seguinte: se nós conseguimos sobreviver durante seis meses na
estrada, porque então não ir para outros lugares do país. A Califórnia é a
nossa base, a maioria de nossos amigos estão lá. Decidimos trocar de ônibus e
visitar outros estados e parques dos Estados Unidos antes de voltar para o
Brasil. Visitamos a parte Oeste do país, e, no ano que vem, vamos fazer o lado
leste”, expressa com convicção.
Quanto aos filhos, segundo Izzy,
“eles adoram viajar”. “Inclusive, na pandemia, tivemos que morar em um
apartamento para nos protegermos do vírus, e foi um período muito complicado.
Todos nós nos sentíamos presos, foi estranhíssimo. E após a fase crítica do
coronavírus, compramos um ônibus e voltamos para a estrada. Viajar, como eu
disse, é um caminho sem volta. E esse tipo de liberdade é um sonho, e quando o
experimentamos viver esse sonho, é para sempre”, conclui Izzy.
Serviço
Instagram – @Afamília Reis
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