“Dê poder ao miserável e ele fará da sua egocentricidade um tribunal...”
O que surpreendeu após prisão dos dois seguranças de um supermercado em
São Paulo, que chicotearam um adolescente negro, de 17 anos, após ter sido
flagrado roubando um chocolate, é que eles também são negros. E isso
caracteriza que o ato imprudente, racista, evidencia o ódio do negro contra o
próprio negro – mácula exteriorizada na chance de humilhar, pelos que se julgam
menosprezados.
Já dizia o historiador mineiro, Joaquim Evangelista dos Santos, “dê
poder ao miserável e ele fará da sua egocentricidade um tribunal de punição,
odioso, sem misericórdia!”
O crime de tortura praticado pelos seguranças denota o quanto negro
odeia negro – isso fica caracterizado na ação brutal –, principalmente se ele –
o negro – galgou postos, estudou, se informou – o que não é o caso do garoto do
supermercado, evidente, que morava nas ruas.
Não se defende quem rouba, mas não é concebível se apropriar da
fragilidade dos desprovidos de beneficies para açoitar – gesto ardiloso de quem
padece de nanismo mental.
O chocolate é doce, prazeroso, mas chicotadas são como lâminas
envenenadas, que contaminam a carne e abre feridas na alma. Ressentir-se pela
injúria é o mesmo que cavar trincheiras no coração!
Mas o menino que tentou roubar um chocolate proporcionou a grande chance,
vamos dizer assim, aos seguranças de acanalhar o fato. Usurpar-se da subordinação
do jovem para exteriorizar o que deveria estar intrínseco na frustração de cada
um deles.
Arriar a calça, tirar a camisa, amordaçar e açoitar um menino pobre, das ruas, com
um chicote feito de fios elétricos, por furtar um chocolate, retrata o resgate do sofrimento oriundo do
calabouço nos tempos da escravatura no Brasil.
Qualquer ato de desobediência ou falha no
cumprimento das tarefas era suficiente para que o escravo sofresse maus tratos,
que iam desde xingamentos, bofetões e pontapés até a morte por açoite.
Walther Alvarenga
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