Qual seria, de fato, a história da personagem da vida real?

O planeta mudou – todas as coisas obedecem a uma nova ordem mundial, e já não somos mais os mesmos.

Parei por alguns segundos, repentinamente, ao observar  uma senhora  de olhar melancólico - cabelos brancos, rosto afilado – , solitária, olhando o movimento das pessoa na avenida. Protegida  pelos vidros da janela de uma casa simples, ela traduzia a solidão nossa de todos os dias – estamos escondidos de um vilão invisível que estrangula emoções, afasta pessoas e nos ensina que ainda somos a melhor opção para nós mesmos.

O planeta mudou – todas as coisas obedecem a uma nova ordem mundial, e já não somos mais os mesmos. As transformações dessa nova realidade construíram pontes estreitas entre o que desejamos e o que podemos ter. A insensatez dos fatos nos obriga a mudar conceitos, e, tomara que encontremos algo para acreditar. 

Parei o meu carro por alguns segundos prestando atenção àquela imagem enigmática, mas dócil – uma senhora atrás de sua janela. As duas mãos entrelaçadas apoiavam o queixo, e tive a impressão de que teria algo muito especial para dizer. Mas quem iria ouvi-la? Qual a melhor parte de sua trajetória?

A sociabilidade está comprometida. Exercemos novos experimentos e nessa caminhada reaprendemos que o abraço, ou outras características que traduzem afeto, pode nos comprometer – criar subterfúgios que nos levam a situações de risco. A nossa espécie é hoje uma ameaça!

E se o castigo vem dos céus – pela banalidade dos tempos e a profanação do homem–, a humanidade paga preço altíssimo, e padecemos com o gosto ácido de nossos desacertos.

Estamos todos, de alguma forma, solitários – idênticos à senhora por trás da janela simples. Já diziam os sábios, “a gravidade é a resposta da matéria para a solidão”.

As transformações causadas em nossas vidas são evidentes. O coronavírus surgiu em país estranho, se propagou de forma avassaladora, esmagando sonhos, metralhando expectativas, bombardeando o bom senso. 

A guerra sórdida que enfrentamos todos os dias, na incerteza de quanto tudo isso vai passar. É imprescindível sair da trincheira para retomar o direito à liberdade plena.

E quando acelerei o carro, a senhora atrás da janela conseguiu me identificar. Primeiro, olhou-me fixamente; depois sorriu e, finalmente acenou, como se levantasse uma bandeira branca com os dizeres: VAI PASSAR!

Walther Alvarenga

#NãoSaiadeCasa  



   


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