Em entrevista exclusiva ao BLOG, o brasileiro Jammes Nova, natural de Frutal (MG), relata momentos sombrios da guerra na Ucrânia. Em um abrigo na cidade de Lviv ele desabafa: “É horrível ver soldados russos atirando contra pessoas inocentes...”
Já era noite na cidade de Lviv, a
oeste da Ucrânia, quase dez horas do horário local quando o brasileiro Jammes Nova pôde falar com o Jornal
Nossa Gente. Ele estava em um abrigo com outros ucranianos, e ao fundo podia se
ouvir crianças agitadas – gritinhos infantis que se misturavam às vozes dos
adultos.
James tinha poucos minutos para falar, e avisou que
não poderia ficar ao telefone celular porque o momento era de apreensão.
Lviv está perto da fronteira com a
Polônia e tem cerca de 800 mil habitantes – evidente que esta estatistas
foi antes da guerra, pois muitas famílias deixaram a cidade.
Jammes Nova, natural de Frutal (MG), tem 32 anos, é
empresário e músico – toca piano e guitarra, além de ser produtor de eventos na
Ucrânia. É filho de Vera Carvalho e Valter Ferreira de Castro. Assim como os ucranianos mais destemidos, o brasileiro resolveu ficar
no país e enfrentar as atrocidades da guerra.
Disse que os bombardeios, sirenes e a truculências
dos soldados russos não conseguiram a apagar a beleza de Lviv que sobrevive ao caos.
Como está sendo para
você conviver com a guerra? Pergunto a Jammes e ele não hesita na resposta: “É
tudo muito difícil, e não entendi ainda o porquê estou aqui, nesse país, em
plena guerra, onde civis são mortos de forma tão covarde. Deus tem um propósito
na minha vida.”
“É horrível você ver
soldados russos atirando contra pessoas inocentes, que não são responsáveis
pela guerra. E quando a sirene toca, é algo assustador, o perigo está tão
próximo de você”, fica em silêncio por alguns segundos.
Indago se no abrigo
tem alimentos, e se as pessoas a sua volta estão bem protegidas. “Hoje
(quarta-feira) as coisas estão um pouco mais tranquilas, mas estamos em meio a
uma guerra e tudo pode acontecer. Aqui, no abrigo temos Internet e alimentos
também. Mas não sei por quanto tempo”, fala com preocupação.
Pergunto a Jammes o
porquê de permanecer na Ucrânia, se ele tem chances de ir para a fronteira com
a Polônia e fugir da guerra.
“Tenho um carinho especial
pelos ucranianos, vou ficar e ajuda-los. Estou no país desde maio de 2021, e
foi aqui que me encontrei. Eu já morei no Japão, no Reino Unido, e tantos
outros países, mas a Ucrânia está no meu coração”, relata.
“O yin e o yang propõe uma nova forma de olhar para as situações. E segundo a filosofia chinesa, você não escolhe, você é escolhido, e tenho certeza de que a Ucrânia me escolheu para estar aqui em momento tão difícil.”
Também está ajudando um
rapaz negro, imigrante, que está sem o passaporte e não pode se locomover no
país.
“O passaporte desse
imigrante está com a imigração da Ucrânia. Pouco antes da guerra, ele tinha
dado entrado na documentação para se legalizar no país. Deixou o seu passaporte
na imigração”, diz.
“Aqui, no Leste
Europeu, não é comum pessoas de pele negra. Há um preconceito muito grande
contra negros por aqui, e no caso desse imigrante, que tenta reaver seu
passaporte, as coisas ficam bem difíceis. Estou dando uma força para que ele
consiga pegar o passaporte para sair do país”, informa.
Aviso para desligar o
celular
Subitamente, Jammes
para de falar ao telefone. Alguém o alerta de alguma forma e ele diz que está
em uma entrevista. Ele argumenta com a pessoa por alguns segundos e depois
retorna.
Diz que recebeu um
aviso dos responsáveis pelo abrigo para desligar o celular. Tem apenas alguns
minutinhos.
Conta Jammes que a
sua empresa de importação e exportação de milho e trigo se tornou rentável. Começou
no Reino Unido e depois se locomoveu para Ucrânia, em Lviv onde ele se estabeleceu deste de maio de 2021.
Os negócios iam bem – ele também trabalha
no mercado de criptomoedas. No setor do entretenimento, é produtor musical,
além de ser músico e cantor.
“A guerra é um divisor que deixa as
pessoas vulneráveis, destrói sonhos e causa tantas mortes. E o exército russo
não respeita mais o alvo, atirando bombas contra escolas com crianças e
hospitais. É algo repugnante.”
“Nós precisamos de
água, de alimentos e de roupas porque as condições por aqui são críticas. O
povo ucraniano é guerreiro, mas há limite para todas as coisas. Pelas crianças,
pelos idosos e pelas famílias eu peço socorro ao mundo. Por favor, nos ajudem!”,
fala com a voz embargada.
Peço ao Jammes que
deixe uma mensagem antes de desligar o celular. “A minha mensagem é para que
Vladimir Putin pare essa guerra! Um líder que desestabiliza o mundo e que
representa uma ameaça para todos nós. Ele é cruel, mata civis e quer dominar a
Ucrânia. Alguém precisa para-lo, imediatamente!”
Walther Alvarenga
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