“Todo Dia a Mesma Noite” resgata o aterrorizante incêndio que aconteceu na “Boate Kiss”, dia 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria (RS), matando 242 jovens

Já está disponível na plataforma da Netflix – chegou quarta-feira (25) –, a sombria e enigmática minissérie de cinco episódios, “Todo Dia a Mesma Noite”, que mexe com a emoção e nos remete ao mais aterrorizante episódio que aconteceu na “Boate Kiss”, noite do dia 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Foram 242 mortes de jovens asfixiados durante incêndio criminoso na boate, que assustou o Brasil e percorreu o mundo. A minissérie estreia a dois dias de a tragédia completar 10 anos.

A princípio, no primeiro episódio, tudo leva crer que nada de impactante – em termos de produção e interpretação –, poderá ocorrer em se tratando de um fato que todos têm conhecimento.

Entretanto, a forma como a diretora Julia Rezende trabalha com o realismo das cenas e as evidências do incêndio, baseados no livro de Daniela Arbex, deixa o espectador apreensivo, querendo seguir em frente. Ficamos “preso” na trama, sem ter o direito de preparar a pipoca.

São cenas fortes, de tirar o folego, nos remetendo para dentro de uma boate prestes a se incendiar e provocar a morte de 242 jovens. Não tem como sair dali porque somos reféns de uma verdade que mexe com a alma e tortura nossas lembranças. O processo de fuga, de escapar do caos, incomoda.

Elenco e direção são cúmplices – trabalharam muito bem no propósito de resgatar a aterrorizante noite que mudou vidas, interrompeu sonhos e aniquilou a dignidade de pais e mães. De alguma forma, ficamos comprometidos com tudo o que aconteceu.

Melhor estar bem preparado para ver “Todo Dia a Mesma Noite”, que nos surpreende pelo realismo e nos deixa tristes – reflexivos –, porque todos já sabemos como tudo acaba. No entanto, desconhecemos os meios que levaram pessoas ao trágico e estarrecedor holocausto.

Méritos aos atores do núcleo central, com destaque especial ao veterano Paulo Gorgulho, que nos brinda com uma das cenas mais brilhantes – no âmbito da interpretação, evidente –, correndo pelo estacionamento próximo da boate Kiss, acompanhado da esposa, na tentativa de se certificar se o carro do filho está ali estacionado. O garoto pode estar entre os mortos.

O longo caminho das famílias que perderam seus filhos, vitimas da noite fatídica, em busca de justiça – o descaso e a morosidade do processo. Sem dúvida, elementos que transformam a minissérie em um documento-reportagem importante para que possamos analisar a disparidade entre interesse e subterfúgio – um jogo intransigente –, na busca pelos verdadeiros culpados.

WaltherAlvarenga

 

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